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Quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro

sexta-feira, 30 de setembro de 2011 | Neyl Santos


 No ano de 1977 acontecia no Brasil as primeiras manifestações depois do AI-5. Os movimentos estudantil e operário tomaram as ruas na luta contra o regime militar e o arrocho salarial. Estavam abertas as portas para a redemocratização do país. Os anos que seguiram foram talvez o período da história de pouco mais de 500 anos do Brasil, com maior participação popular na vida política do país.

 Este episodio comprova a tese de que até hoje nenhum direito foi concedido às pessoas por exercício de justiça. Todo direito tem sua gestação na população que toma consciência de determinada situação opressora, organiza a luta e toma as ruas, enfrentando todas as consequências que esta "opção" trás.

Grito dos/as Excluidos/as 2011
 O ano de 2011 está sendo marcado por uma tímida mais importante iniciativa popular contra a corrupção que assola os poderes legislativo e executivo. A população de maneira geral está entendendo de que enquanto os cofres públicos continuarem sendo alvos de mutretas e maracutaias, bandos e quadrilhas muito bem organizadas, falar em combate à pobreza é pura demagogia. Os frutos deste entendimento são grandes manifestações nacionais onde de preto e caras pintadas às pessoas vão às ruas dá um "#Basta" na corrupção.

 Em contra mão a tudo isso, tramita na câmera municipal do Recife, um projeto de lei do vereador Sergio Magalhães (PSD), que sob o pretexto de não atrapalhar a fluidez do transito, proíbe qualquer evento publico nas avenidas Boa Viagem e Conde da Boa Vista. A primeira, na zona sul, é onde acontece os dois maiores eventos religiosos da cidade, O "Sim à vida" promovido pela Igreja Católica, e a "Marcha para Jesus" promovida por igrejas (neo)pentecostais. Já a segunda, é palco de manifestações o ano inteiro. A grande maioria das greves, marchas, passeata, caminhadas e um monte de outras manifestações, acabam por tomarem a Conde da Boa Vista como grande passarela. Nela é onde também acontece o Grito dos/as excluídos/as.

 Fico imaginando se todo problema de mobilidade do Recife, são os eventos populares. Será que todo dia no final da tarde, existe passeata na Avenida Agamenon Magalhães? Gostaria de saber quais são os projetos do senhor Sergio Magalhães para a criação de ciclovias e de investimento no transporte coletivo (que está entregue a um punhado de empresários). O povo que vai pra rua, é o povo que se espreme dentro de um ônibus, e sabe muito bem o que é está preso num engarrafamento que não foi ele quem causou. Mobilidade parece ser a palavra do momento na gestão, e quando se fala da Avenida Conde da Boa Vista é até engraçado porque em favor da mobilidade, recentemente o numero de faixas foi reduzido de 6 para 4. Alguém que entenda de transito e de arquitetura, por favor, me explique, porque se queremos fazer o transito andar, o obvio é que as vias sejam expandidas, e não encurtadas.

 Este projeto me parece mais uma atitude reacionária que travestida com uma palavrinha do momento, quer abafar o movimento popular. Mas saibam companheiros/as, que se fecharem a Conde da Boa Vista pra nós, fecharemos outras vias (menos a Agamenon Magalhães que já é parada por natureza) para quem não interessa o transito parado, que é a classe burguesa.

 As manifestações são frutos deste modelo de sociedade dividido em classes que a elite política e econômica deste país escolheu. E como já dizia uma canção do povo Xucuru-Kariri "Pisa ligeiro pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro."

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